domingo, 18 de janeiro de 2015

Formatura Solidária Faça Parte da Minha Memória

Sobre o evento Formatura Solidária - Faça Parte da Minha Memória, a ideia nasceu quando fui questionada por um amigo, se eu deixaria passar o momento da minha formatura "em branco", sem comemoração alguma. Nunca fui uma pessoa de frequentar festas, sempre tive o perfil nerd de ficar em casa estudando, fazendo fichamentos, assistindo filmes ou na internet. Ah também sempre fui muito focada na faculdade e no trabalho. Então, nunca pensei em promover uma festa por causa da formatura, ou simplesmente sair com amigos para um bar ou restaurante para comemorar.

Como considero que nós temos o dever de retribuir à nossa sociedade as oportunidades que tivemos, e como eu tive o privilégio de estudar em uma universidade pública como a Universidade Federal da Bahia, ao se aproximar a metade do semestre vislumbrei celebrar este momento único como uma forma de incentivar e acarinhar o próximo. Neste caso, escolhi uma instituição que abriga crianças que estão vivendo um momento delicado de ruptura familiar. Resolvi então promover um evento beneficente afim de coletar doações e incentivar as pessoas a voltarem a atenção para estas crianças. 

Como formanda do curso de Museologia, pensei então em servir de conexão entre as pessoas, as crianças cheias de medos, inseguranças, sonhos e fantasias pertinentes da infância e a Museologia. Acredito que um museu é muito mais do que um espaço com quatro paredes, e que sua função social deve ir muito além da sua estrutura física, a minha grande inspiração, a Museóloga Maria Célia Teixeira enriqueceu os meus estudos com reflexões como estas, assim como meus queridos professores da UFBA e as experiências que vivi no Museu Eugênio Teixeira Leal. 

Confesso no entanto, que as experiências mais significativas que vivi foi com o público, especialmente as crianças. Você não pode imaginar o que é promover um cineminha para pessoas que nunca tiveram a oportunidade de ir em um, ou o olhar de pessoas que nunca tiveram a oportunidade de estar em um museu, porque foram posicionados à margem da mesma sociedade que me deu oportunidades. Sobre o segundo caso, inicialmente as pessoas durante uma visita agem como se não tivessem o direito de estar alí, afinal sempre tiveram direitos essenciais como saúde, educação e segurança negados. Depois, dependendo da forma como a instituição os recebe, vem um fio de confiança e finalmente o brilho no olhar por estar tendo a oportunidade de vivenciar novas experiências, não apenas aprendendo, mas também compartilhando seu conhecimento. Sim, compartilhando conhecimento, pois todo mundo tem cultura, já dizia Roberto da Mata, e o profissional da Museologia durante uma visita mediada deve tentar extrair e valorizar o conhecimento trazido pelos visitantes, independente de faixa etária e grau de escolaridade. 

Por isso, considero que este evento, por mais simples que possa parecer, está recheado de significados e com certeza dará frutos no futuro para todos que participarem dele. Todos e todas levarão na sua memória este momento ímpar, e mais, aqueles que se fizerem presentes, levando apenas amor no coração para compartilhar com os pequeninos, farão parte da memória destes seres puros que, por adversidades que a vida impõe, estão infelizmente em um momento difícil, que pode afetar profundamente a sua infância. O nosso papel será simplesmente o de se doar. Os presentes, os livros, todas as doações serão bem vindas, mas o olhar carinhoso, a atenção, a brincadeira, a alegria que poderemos promover, com certeza ficarão marcados em cada um de nós. 

Enfim, a Museologia não apenas me ensinou a preservar, documentar e comunicar objetos, mas também me ensinou a colecionar e promover emoções, me ensinou à afetar o outro, à se mobilizar e não se conformar com o que está estabelecido, me ensinou à promover conexões em busca de nossas revoluções interiores. A mudança começa com nossas próprias ações.



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