domingo, 25 de agosto de 2013

Resenha: Sociedade e Economia Colonial

Esta resenha apresenta o ensaio, que se encontra na obra História Econômica Colonial, intitulado como: Por que a escravidão africana? A transição da força de trabalho: uma abordagem, no Brasil págs. 8 a 11; no México, págs. 11 a 16 e na Carolina do Sul, págs. 16 a 18; escrito por Russel R. Menard & Stuart B. Schwartz do Departamento de História de Minnesota. Para contextualizar e confrontar alguns estudos encontrados no ensaio de Russel e Schwartz, foi escolhida a obra intitulada como: Aspectos da Economia Interna da América Espanhola Colonial: mão de obra; tributação; distribuição e troca, é o 6º capítulo da obra História da América Latina, organizado por Leslie Bethel.

Os dois trabalhos tratam da sociedade e economia colonial da América, e delineia algumas das estratégias utilizadas para se obter lucro através do sistema de escravidão. O ensaio de Russel e Schwartz apresenta a estrutura do mercado de trabalho atlântico no início da era moderna com o objetivo de descrever as limitações que irão caracterizar o desenvolvimento do escravismo e suas possibilidades, e delinear elementos comuns do desenvolvimento da escravidão levando-se em consideração as particularidades locais, sem no entanto, se prolongar com muitos detalhes.

Os autores Russel e Schwartz descrevem em sua obra, o processo histórico de transição do trabalho escravo indígena para o africano, a estrutura da economia atlântica, suas imperfeições e as variações de mão-de-obra no Brasil, pelos portugueses, no México, pelos espanhóis e na Carolina do Sul, pelos ingleses, cada colonizador buscando sua autonomia dentro do disputado sistema econômico do Atlântico.
O texto de Macleod examina três aspectos da economia interna que são: os sistemas de trabalho, págs. 219 a 238; a tributação, págs. 239 a 252 e a atividade comercial do dentro do império págs. 252 a 268. Os aspectos analisados dialogam e aprofundam com o ensaio de Russel e Schwartz, sendo, que Macleod aprofunda sua análise sobre a América Espanhola.

Russel e Schwartz iniciam o texto citando teses de outros autores a respeito da escravização dos africanos como a hipótese da fronteira aberta de E. Domar, tese que afirma que a escravidão teve maior expansão na América devido a grande quantidade de recursos versus escassez de mão de obra. O texto de Macleod descreve que, no primeiro momento, os sistemas adotados pela América Espanhola, onde, inicialmente, houve a extração dos excedentes, realizado muitas vezes através de saques e pilhagens, forma utilizada para pagar os soldados ou expedicionários voluntários, após esse momento foram implantadas formas mais sistemáticas de exploração, algumas delas, diretamente com os indígenas.
Sobre a justificativa da escravidão africana do ponto de vista epidemiológico, que sustenta que os negros teriam maior resistência a determinadas doenças, Russel e Schwartz citam a tese de Wood. No trabalho de Macleod é citado o efeito dessas doenças para o sistema de encomienda, um acordo imposto pela Coroa aos indígenas, considerado segundo o autor “mais ou menos amigável”:

Outras forças entraram em ação para enfraquecer a encomienda. Uma das mais importantes foi o declínio populacional. Em virtude da falta de imunidade às doenças do Velho Mundo e da destruição econômica e cultural causada pela conquista e pela revolução que ela provocou, as populações indígenas desapareceram aos milhões nos anos que se seguiram à conquista. (MACLOAD, 1999: págs. 223 e 224)

Sobre a associação da mão-de-obra africana e o cultivo da cana de açúcar, Russel e Schwartz citam Earle. Em suma, os referidos autores pretendem derrubar a tese de que a escravização dos africanos se deu exclusivamente a partir do ponto de vista racial e étnico e reforçam que este sistema era muito mais complexo e o aprofundamento do seu estudo deve se levar em consideração suas particularidades.
Russel e Schwartz fazem também referência a Immanuel Wallerstein, que descreveu a escravidão africana na América como propulsor necessário ao desenvolvimento do capitalismo mercantil na Europa, uma ordem econômica mundial. Sobre a interpretação de Wallerstein os autores afirmam que:

Seja pelas razões pertinentes às regiões centrais ou pelas respostas locais a condições específicas, esta interpretação transforma o trabalho escravo numa consequência lógica do capitalismo, mas ela não oferece uma explicação adequada quanto ao porque da escravidão ter sido a forma de coerção escolhida, ou porque os africanos se tornaram a maior fonte de mão-de-obra. (RUSSEL & SCHWARTZ, 2002: pág. 4).

Para o aprofundamento do tema, os autores Russel e Schwartz desenvolvem do geral para o particular e exploram a transição da escravidão no Brasil, no México e na Carolina do Norte. O texto divide-se então nos seguintes tópicos: Transições na força de trabalho: uma abordagem; O caso do Brasil; A experiência mexicana; A situação na Carolina do Sul e Conclusão Sumária.

Em O caso do Brasil, os autores Russel e Schwartz descrevem o caminho percorrido pelos portugueses de 1450 até implantar como mão de obra predominante no Brasil, os africanos. Explicam que a escravidão era um sistema utilizado pelos portugueses antes do Brasil. Na Península Ibérica, as disputas entre os cristãos e islâmicos favoreceu este tipo de mão de obra escrava. Inicialmente os portugueses tinham interesse em extrair determinados produtos das Terras do Brasil como o pau-brasil, primeiro produto a ser exportado, adotando o sistema do escambo com os índios.

Esta relação passa por mudanças em 1530 com as Capitanias Hereditárias, segundo Marchant, quando se passou a incentivar o povoamento costeiro por colonos portugueses, implantava-se neste período um sistema permanente de colonização. O sistema de escambo com os índios não foi bem sucedido para o cultivo da cana-de-açúcar.

Os portugueses então passam a escravizar os índios, que retiraram em fugas, desencadeando assim, campanhas militares entre 1540 e 1550. No entanto, em 1540 já existia importação de escravos africanos para Pernambuco, mas nos primeiros anos, os escravos eram predominantemente indígenas. Sobre a necessidade de mão-de-obra, o autor Macleod, diz que entre 1520 e 1540 os líderes grupos espanhóis reconheceram a necessidade de um sistema de mão-de-obra que evitasse disputas e causassem rebeliões indígenas e mostra um parâmetro fracassado no que diz respeito à tentativa de manter sistematicamente a escravidão da população nativa.

No Brasil, o quadro não foi diferente do que foi citado por Macleod na América Espanhola, segundo Russel e Schwartz após 1560 se tornou difícil manter a escravidão indígena, tendo em vista as epidemias que ocorreram entre 1559 e 1563 e dizimaram tribos inteiras. Não era vantajoso para os portugueses investir na mão de obra indígena, além do mais, a produção açucareira requeria mão-de-obra mais qualificada como a experiência na Ilha da Madeira. Os africanos tinham experiência em cultivos agrícolas e eram mais resistentes às doenças tropicais. No que se refere à América Espanhola, Macleod diz que:

De modo geral, devido às distâncias e aos custos envolvidos, a aquisição e a manutenção dos escravos africanos eram mais onerosas que as dos índios de aldeia, e não havia aldeia agrícola auto-suficiente à qual pudessem retornar na baixa temporada. O crescimento de uma grande população trabalhadora de escravos africanos teve de aguardar o desaparecimento ou declínio da população americana nativa. (MACLOAD, 1999: pág. 236)

No Brasil, Russel e Schwartz explicam que, a partir de 1570 então, há um aumento significativo na importação de escravos africanos para trabalharem nas plantations, apesar desta transição ter sido feita de forma gradual, entre 1570 e 1650, a mão de obra indígena permanece sendo utilizada, mas é superada pelos africanos em 1650.

No terceiro tópico intitulado A experiência mexicana, os autores Russel e Schwartz desenvolvem o trabalho sobre as atividades econômicas no México ou Nova Espanha, colônia que, assim como o Brasil, utilizou a mão de obra escrava africana, mas em proporção menor, conforme descrito pelo autor Macleod, Russel e Schwartz qualificando consideram que, no México o sistema foi mais flexível, neste caso, Macleod apresenta que essa flexibilidade se dá pelos sistemas implantados, muitas vezes complexos como os citados em seu texto: a encomienda, o repartimiento e a peonaje, diversas tentativas de adaptações influenciadas por várias crises, fracassos e fatores, mas que proporcionava mais opções de mão-de-obra incialmente escravos indígenas, assim como no Brasil. Nas primeiras quatro décadas, os espanhóis recorreram à escravização indígena para obtenção de mão-de-obra. Depois se apropriaram do sistema de naborias, sistema pré-colombiano de servidão, cita Russel e Schwartz.

Russel e Schwartz também fazem referência ao sistema encomienda, principal forma de organização do trabalho ao longo do século XVI, em que um espanhol ficava responsável por um determinado grupo indígena e administrava os tributos e serviços que estes indígenas proporcionavam. Por volta de 1540, passa a existir também o repartimiento, ou seja, a utilização de índios das aldeias em serviços para o governo.

No México e no Peru esses repartimientos de mão-de-obra, que mais tarde receberam o nome de encomiendas, tornaram-se uma maneira de compartilhar de modo mais ou menos amigável a oferta de mão-de-obra com os primeiros colonizadores mais poderosos e prestigiosos, com a exclusão daqueles que não tinham o poder ou posição para fazer outra coisa senão se queixar. (MACLOAD, 1999: págs. 222)

Segundo Russel e Schwartz, assim como no Brasil, em 1570 a importação de escravos africanos aumentou, havia mais negros do que espanhóis no México, mas os negros ainda eram minoria da população, inclusive nas áreas de plantation. Macleod reforça que os escravos africanos chegaram à América espanhola junto com algumas das primeiras expedições no século XVI, esses escravos eram encontrados no bateamento dos rios auríferos mais ricos e em locais cujos lucros eram altos ou na falta de mão-de-obra indígena.

Russel e Schwartz apresentam que os espanhóis estavam dispostos a procurar qualquer tipo de mão-de-obra, o declínio da população indígena no século XVI os estimulou a recorrer até para o tráfico de escravos filipinos, mas as Filipinas nunca se tornaram fonte importante de mão-de-obra. Em 1640, a rebelião portuguesa foi um marco, pois desestruturou o sistema escravista dos asientos, acordos comerciais de monopólios de produtos, em 1663 é firmado um novo acordo com genoveses. A população indígena diminui e se recupera no fim do século XVII, há um aumento de escravos africanos alforriados, filhos de um escravo com índia livre, nascem livres. Uma das diferenças desse sistema econômico colonial entre o Brasil e o México é que, segundo os autores “os senhores mexicanos encontraram uma fonte de mão de obra segura e barata no mercado de trabalho composto pelos descendentes livres dos aborígenes da região.” (RUSSEL & SCHWARTZ, 2002: pág. 17).

Na parte do ensaio que se refere à Carolina do Sul, os autores Russel e Schwartz ressaltam semelhanças entre o Brasil, o México e a Carolina. As três colônias se utilizaram de mão-de-obra com etnias e status sociais diferentes, quando necessário recorreram à escravização de africanos por situações semelhantes. A principal diferença apontada pelos autores se refere à rapidez e eficiência com que as Carolinas implantaram a escravidão africana. Essa eficiência é justificada pelo fato dos 150 anos de escravidão já existente na América, antes das Carolinas adotar o sistema.
A obra de Macleod delinea sobre os diversos sistemas de trabalho com a exploração dos índios para extração da riqueza local e sua acumulação, além das tributações que colocavam estes nativos em posição de súdito, ou seja, os espanhóis invadiram suas terras, realizaram a exploração de suas riquezas, dilaceraram a cultura local, massacraram tribos inteiras, trouxeram doenças que dizimou o restante da população, e os que sobraram foram tratados como mão-de-obra que merece ser explorada e deverá pagar tributos onerosos morando em suas próprias terras.

Além do tributo, dois outros sistemas de taxação – ou antes de extorsão – foram impostos extensamente aos pobres do campo. O sistema mais comum, aplicado em algumas das regiões mais pobres da América espanhola, foi a derrama. De acordo com essa prática, os índios das aldeias, em geral mulheres, eram forçados a trabalhar as matérias-primas, via de regra a lã ou o algodão, até o estágio ou estágios seguintes de elaboração. Desse modo o algodão bruto era transformado fio a fio em tecido cru, o tecido cru em tecido tingido, e assim por diante. (MACLEOD, 1999: pág. 242)

O texto de Russel e Schwartz conclui ressaltando a importância que a estrutura da economia atlântica teve no surgimento da escravidão nas colônias da América. Os tipos de mão-de-obra apresentadas pelos autores, nos dá um parâmetro sobre a variedade das forças de trabalho, mas mostra que, no caso dos africanos, estes estavam inseridos num contexto de proporção internacional devido à rápida expansão das plantations.

Ambos os trabalhos representam uma excelente referência para quem tem interesse em compreender como se dava a economia atlântica e algumas de suas particularidades no que se refere à mão-de-obra e alguns aspectos que caracterizam a sociedade colonial.

Murdo J. Macleod é professor emérito de História da Universidade da Flórida em Gainesvile.

Russel R. Menard é professor do Departamento de História da Universidade de Minnesota, entre suas especializações está a América colonial e história da escravidão.

Stuart B. Schwartz é professor do Departamento de História da Universidade de Yale, Presidente do Conselho de Estudos Latino-Americana e Ibérica. 

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Inscrições para o 4º Encontro Baiano de Museus

NOTA 

Inscrições para o 4º Encontro Baiano de Museus continuam abertas 

Continuam abertas as inscrições para a 4ª edição do Encontro Baiano de Museus, promovido pela Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (DIMUS/IPAC). O evento acontece em Salvador, nos dias 10 e 11 de setembro, das 9h às 18h, no Instituto Feminino da Bahia (Politeama). O tema escolhido para este ano é Museus, Educação e Desenvolvimento Social. 

Interessados em apresentar relatos orais de experiências devem se inscrever até 18 de agosto, no site http://dimusbahia.wordpress.com/4o-encontro-baiano-de-museus/. O endereço é o mesmo para participantes ouvintes. Estes têm um prazo de inscrição maior: até 5 de setembro.  As inscrições são gratuitas para todos. Os participantes podem levar um pacote de fralda geriátrica, que será doado ao Lar Irmã Maria Luiza (Mares). 

Voltado para a sociedade civil, entidades museológicas, universidades, estudantes, instituições do setor privado e órgãos públicos, o 4º Encontro Baiano de Museus é um momento para o setor refletir, avaliar e delinear diretrizes para a área, consolidando a Política Setorial de Museus, em consonância com a Política Nacional de Museus (PNM). Mais informações pelo telefone (71) 3117-6381.


O quê: Inscrições para o 4º Encontro Baiano de Museus
Quando: Inscrições até 18 de agosto para grupos de trabalho 
               Inscrições até 5 de setembro para ouvintes
Quanto: Gratuito. Sugere-se a doação de um pacote de fralda geriátrica G ou GG, que será doado ao Lar Maria Luiza (Mares) - (71) 3314-2885.
Onde: Instituto Feminino – Rua Politeama, nº 2, Politeama, Salvador – BA. 
Encontro Baiano de Museus: 10 e 11 de setembro.
Informações: (71) 3117-6381.
Realização: DIMUS/IPAC

Fonte:
--
Nilma Gonçalves 
Jornalista DRT/BA 2450

domingo, 11 de agosto de 2013

III REM-Encontros: Reflexões sobre a Educação em Museus

Mais informações: rem.bahia2010@gmail.com



quinta-feira, 8 de agosto de 2013

IV Encontro Baiano de Museus: inscrições abertas

Estão abertas as inscrições para a 4ª edição do Encontro Baiano de Museus, promovido pela Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia (DIMUS/IPAC). Este ano, o evento acontece em Salvador, no Instituto Feminino, nos dias 10 e 11 de setembro, sob o tema Museus, Educação e Desenvolvimento Social. Interessados em participar com relatos de experiência – apresentação oral – devem se inscrever aqui, no período que se estende até 18 de agosto. É preciso preencher uma ficha de inscrição, apresentar um resumo do trabalho e enviar para o e-mail encontrobaianodemuseus@gmail.com. O endereço é o mesmo para o público geral, que envolve comunidade museológica, sociedade civil, instituições do setor privado, universidades, museus e órgãos de gestão museológica federal, estadual e municipal. Estes têm um prazo maior de inscrições: até 05 de setembro. Para ambos os casos, a inscrição é gratuita. O número de vagas é limitado. Durante o evento, os participantes podem levar um pacote de fralda geriátrica, que será doado ao Lar Irmã Maria Luiza (Mares).
O objetivo do 4º Encontro Baiano de Museus é colaborar com a democratização do conhecimento construído pelos profissionais da área, promover o debate sobre o papel que os museus desempenham na contemporaneidade e ressaltar a conexão entre estes espaços e o futuro, desconstruindo a noção que engessa estas instituições no passado. O evento é, ainda, um momento para o setor refletir, avaliar e delinear diretrizes para a área, consolidando a Política Setorial de Museus, em consonância com a Política Nacional de Museus (PNM). Mais informações pelo telefone (71) 3117-6381.