sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Oscar 2012: A Invenção de Hugo Cabret

A Invenção de Hugo Cabret
por Bruno Faulin

  
 hugo 23 660x440 Crítica | A Invenção de Hugo Cabret

Depois de ‘Avatar’, diversos estúdios passaram a lançar seus filmes em 3D, que aos olhos do espectador, pode realmente parecer uma experiência magnífica, mas que na técnica não funciona bem assim. ‘Hugo’, de Scorsese, é como ‘Avatar’, de Cameron (que após assistir ao filme de Scorsese, classificou-o como uma “obra de arte”), o 3D funciona de forma deslumbrante e com profundidade. É como estar dentro da projeção, sentir a neve cair bem próxima, os personagens interagindo com o espectador, e muito mais que isso, trazer de volta aquela sensação lúdica de espetáculo, de magia, técnicas que o cinema dominava com maestria antes que pudéssemos ter um pouco daquilo tudo sem precisar sair de casa. Baseado no livro homônimo de Brian Selznick, ‘A Invenção de Hugo Cabret’ é absolutamente maduro e majestoso, ainda que seja um filme infanto-juvenil e mais uma aposta surpreendente de Scorsese, que resolveu dar ouvidos para sua esposa e a filha mais nova.

Na trama, o jovem Hugo (Asa Butterfield) é um órfão que vive uma vida secreta nas paredes de uma estação de trem. Com a ajuda de uma garota excêntrica, ele busca a resposta para um mistério que liga o pai (Jude Law) que ele perdeu recentemente, o mal humorado dono de uma loja de brinquedos que vive abaixo dele e uma fechadura em forma de coração, aparentemente sem chave e que deve revelar um segredo que os levará a conhecer a história do cinema.

A invenção de Hugo Cabret 03 660x440 Crítica | A Invenção de Hugo Cabret hugo 18 660x440 Crítica | A Invenção de Hugo Cabret

Ambientado em Paris, nos anos 30, somos apresentados aos coadjuvantes Sacha Baron Cohen (Borat), que está ótimo no papel do amargo e atrapalhado guarda da estação de trem onde se passa toda a história, e sua conselheira Madame Emilie, vivida por Frances de la Tour (Harry Potter e o Cálice de Fogo) e que juntos protagonizando cenas cômicas com seus cachorros, cenas, essas, que fazem a plateia ir às gargalhadas. Já nos papéis principais, Isabelle, a companheira de Hugo que é interpretada por Chloe Morets, também encanta com seu jeito aventureiro e cativante que transmite ao espectador um carinho especial por sua personagem, diferentemente do protagonista vivido por Butterfield, que apesar de estar dentro de uma história envolvente, desvia o olhar do público ao segurar a expressão e prende-la dentro de si, ainda que seja feliz ao conduzir a trama com seu ar inocente.

E se o filme traz personagens divertidos, uma excelente direção de Martin Scorsese e um efeito visual em 3D perfeito, o que dizer da fotografia, da mixagem de som e da trilha sonora (de Howard Shore). Fatores predominantes que fazem o longa provocar sensações no público que os deixarão em êxtase com tamanha competência visual e sonora. Vai ser difícil o espectador sair do cinema sem memorizar momentos como o que o doberman Blackie praticamente voa pra cima do público em uma de suas incontáveis perseguições aos garotos de rua que frequentam a estação de trem onde trabalha seu dono.
hugo08 660x440 Crítica | A Invenção de Hugo Cabret

Mas por incrível que pareça, o mais impressionante de ‘Hugo’ é justamente o aspecto histórico ao qual somos conduzidos de forma revigorante. Ter a chance de assistir algumas das projeções do mestre do ilusionismo Méliès é como apreciar uma bela obra de arte na nossa própria frente. Georges Méliès, conhecido por ser o mestre dos efeitos especiais antes mesmo que pudéssemos nos dar conta de que eles eram possíveis, é vivido pelo ator Ben Kingsley, que dá ao personagem todo o tom melancólico de um senhor que está apenas à espera um sopro que o livre do ostracismo ao qual se encontra aprisionado. Georges pode ser considerado um gênio, ainda que tenha sido levado a desacreditar em seus sonhos após a Primeira Guerra, onde tentou destruir toda sua obra. E é através de Hugo (personagem fantasia do filme, mas que pode até ser associado a um alter ego do próprio Scorsese) que parte de sua obra é resgatada e reconhecida em vida, ao contrário da realidade, na qual Méliès permaneceu durante muito tempo numa estação de trem vendendo brinquedos até que a imprensa oudesse redescobrir sua obra, fator insuficiente para tirá-lo do sufoco.

‘A Invenção de Hugo Cabret’ é um daqueles raros filmes dos tempos atuais onde somos levados a sonhar, a sentir a magia do cinema e acreditar que aquilo que estamos assistindo pode de alguma forma, contribuir para a nossa vida de um jeito inesquecível e que perdure em nossa memória. Trata-se, não apenas de uma homenagem aos primórdios do cinema, mas também uma forma doce que um diretor que está acostumado a fazer filmes violentos, encontrou para mostrar que é possível utilizar a mais alta tecnologia a fim de permitir que tenhamos as mesmas sensações de nossos antepassados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário