Por Jorge Queiroz – Director do Museu Municipal de Tavira
A palavra
sustentável tem origem no termo latino "sustentare" que significa
segurar, apoiar, conservar.
O conceito de
sustentabilidade relaciona-se com atitudes e actividades humanas correctas do
ponto de vista ecológico, economicamente viáveis, socialmente justas e
respeitadoras da diversidade cultural.
Em 1987 a Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento da ONU definiu
desenvolvimento sustentável como “o
progresso ou desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem
comprometer as capacidades das gerações futuras de satisfazerem as suas
próprias necessidades”.
Existe coincidência
entre a noção de desenvolvimento sustentável e as formas sustentáveis de
produção e de consumo, de crescimento e as dietas alimentares.
Outros conceitos igualmente
ligados à noção de sustentabilidade são os de “segurança alimentar” e
“soberania alimentar”. O primeiro tem a ver com a capacidade ou possibilidade
da comunidade em dar resposta a fenómenos de insuficiência alimentar
generalizada ou localizada, por outro lado a soberania alimentar está relacionada
com o acesso aos alimentos, à protecção do património genético, de espécies
autóctones ou endógenas, pressupõe a continuidade de práticas agrícolas fundamentais
como o uso das sementes trocadas entre os agricultores desde há milénios.
"Sustentável" indica também a
intenção equilibrada de sustentação, o termo "desenvolvimento sustentado"
significa que o objectivo foi ou está a ser alcançado.
A questão da
sustentabilidade ambiental do planeta, dos modelos de desenvolvimento
equilibrados e justos, da segurança e soberania alimentar, das dietas
sustentáveis e da prevenção das “doenças da civilização” são temas de primeira
ordem na actualidade mundial.
2 - A “dieta
mediterrânica”, foi reconhecida e inscrita pela UNESCO a 4 de Dezembro de 2013
em Baku na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade,
incluindo 7 Estados e Comunidades, entre os quais Portugal e a sua comunidade
representativa Tavira.
A “dieta
mediterrânica” é um património civilizacional, com origem no termo grego
“daíata” que significa estilo de vida, resulta de práticas e conhecimentos milenares
que evoluíram com a sedentarização, os processos de agricultura e domesticação
de animais, o conhecimento tecnológico e científico, o desenvolvimento das
cidades e as mobilidades, as colonizações e os mercados.
As três grandes
religiões monoteístas nascidas no mundo mediterrânico sacralizaram alguns alimentos
e promoveram interdições. O pão, o azeite e o vinho constituem a “trilogia
sagrada” presente nos principais rituais simbólicos do universo mediterrânico.
As práticas
culturais ancestrais têm na sua base os ciclos astrais, que determinam ciclos
agrários, as festividades, os alimentos e os pratos característicos de cada
época do ano. A agricultura familiar e de proximidade permitiram até hoje quotidianamente
consumo de produtos frescos de elevada variedade e riqueza nutricional.
A mesa, nas
culturas mediterrânicas, é um lugar central no convívio e na transmissão de
conhecimentos entre gerações.
A “dieta
mediterrânica” foi “descoberta” na década de 50 do século XX por uma equipa
internacional dirigida pelo fisiólogo norte-americano Ancel Keys, divulgada
pela primeira vez com a publicação do estudo “Seven Countries, a Multivariete Analysis of Death and Coronary Hearth
Disease”, no qual se constatava a menor prevalência de doenças
cardiovasculares e coronárias, também maior longevidade em populações de
regiões mediterrânicas analisadas (Creta, ex-Jugoslávia e sul de Itália)
comparativamente com os resultados obtidos nos EUA, Japão, Países Baixos e
Finlândia.
Estudos posteriores
vieram confirmar esses resultados e a importancia do estilo de vida e da
alimentação mediterrânica na prevenção de AVCs, obesidade, diabetes ou diversos
tipos de cancro.
Desde a década de
90 que a DM é considerada pela Organização Mundial de Saúde - OMS como um
padrão alimentar de excelência.
Caracteriza-se do
ponto de vista nutricional por uma alimentação lacto-vegetariana com utilização
quotidiana de cereais, baixo consumo de gorduras animais e carnes vermelhas, o uso
do azeite como óleo alimentar na preparação e acompanhamento dos pratos, de
aromáticas e frutos secos, vinho e infusões como bebidas mais frequentes.
A vida ao ar livre
e o contacto com a natureza, as convivialidades intensas à volta da mesa e no
espaço público, as culturas de partilha e cooperação, as actividades físicas
são elementos fundamentais para a boa saúde física e psíquica, individual e
colectiva.
3 - O
“mediterrâneo” reconhecido pelas ciências do ambiente como um espaço geocultural
de elevada biodiversidade foi também factor determinante no surgimento e
evolução do que hoje consideramos como valores da “civilização ocidental”.
Recentemente a FAO
integrou a dieta mediterrânica no conjunto de “dietas sustentáveis” do planeta.
“Dieta sustentável”
por ser portadora de conhecimentos ancestrais no armazenamento e aproveitamento
da água, produzir menos carbono e poluentes, pela quase inexistência de “pegada
ecológica”, sobretudo por ser um importantíssimo factor na preservação da
biodiversidade do planeta.
4 - O Museu
Municipal de Tavira, instituição da comunidade que representa Portugal na
inscrição na Lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO,
mantém patente ao público uma exposição didática sobre a Dieta Mediterrânica, que
explica os seus fundamentos histórico-culturais e científicos. O Museu
Municipal desenvolve ainda trabalhos de inventário, diversas acções incluídas
no Plano de Salvaguarda aprovado pela UNESCO como o programa “Dieta
Mediterrânica Todo o ano”, passeios mensais de interpretação do património e
oficinas de culinária.
Na Feira da Dieta
Mediterrânica, realizada no primeiro fim-de-semana de Setembro de cada ano,
dezenas de milhares de pessoas fazem a festa e adquirem os produtos locais, mas
também têm musica, teatro, bailes, desporto, espaço para as crianças,
aconselhamento nutricional e cardiológico e estilos de vida saudáveis.
Os Museus têm um
papel importante na defesa da sustentabilidade e diversidade cultural do
planeta.
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